A série de Super-heróis mais inovadora da TV | Crítica de Legion (Primeira Temporada)
Na era em que filmes de super-heróis
estão em alta quem mais sai ganhando são os fãs do gênero. Tem adaptação para
todos os gostos, com uma veia cômica ou sombria, com universos compartilhados
ou não. Os grandes estúdios estão lançando filmes a torto e a direita, alguns
com uma qualidade espetacular e outros que deixam a desejar (cof Batman vs
Superman cof). Contudo, o gênero não está restrito apenas às telonas, ele
também tem seu lugar ao sol nas telinhas, em universo compartilhado com os
filmes da franquia (Marvel’s Agents of Shield, Daredevil, etc.) ou fazendo seu
próprio universo nas séries (Flash, Arrow, etc.).
Contudo, em um mundo onde super-heróis
estão em alta e novos filmes/séries são lançados a cada ano fica difícil trazer
algo inovador pras telas. Parecia até que tudo já foi feito e que o gênero foi
consolidado com uma visão especifica de como uma história de um super-herói deve
ser contada, tanto do ponto de vista de script
quanto do visual. Isso é, até Noah Hawley criar a série Legion do FX, baseada
nos quadrinhos de Chris Claremont e Bill Sienkieswicz.
Legion é diferente de todas as séries do
gênero que você já viu e um dos motivos principais para isso é o fato de ela
não parecer ser uma série de super-herói. É uma série mais fundamentada na
realidade, não há heróis salvando o dia em seus trajes de spandex (estou olhando pra você, Flash) ou uma preocupação e se
manter referenciando os outros projetos cinematográficos da franquia. Legion
existe como uma própria entidade, sem ter que se preocupar com o que está
acontecendo com os X-men. Isso é tão marcante que se você não perceber o logo
da Marvel no começo da série é capaz de demorar alguns episódios para perceber
que se trata de personagens que tem ligação com os quadrinhos dos X-men.
Na série nós acompanhamos o ponto de vista de David Haller, interpretado brilhantemente por Dan Stevens, um homem em seus trinta anos que há seis mora em uma instituição psiquiátrica, Clockworks Psychiatric Hospital, por ter esquizofrenia paranoide, ou ao menos é isso que achamos quando o conhecemos. David nos é apresentado ao som de Happy Jack da banda The Who, em uma montagem espetacular do seu crescimento desde um bebê alegre a um adolescente problemático em um carro de polícia, cujas janelas explodem, culminando em um adulto tentando cometer suicídio. É a forma perfeita de apresentar o personagem ao mesmo tempo em que introduz, logo no início da trama, uma dúvida na cabeça do telespectador sobre o estado mental de David: seria um mutante ou apenas louco?
Esse questionamento não é feito apenas com David. Em Clockworks, quando David conhece Sid Barret (interpretada por Rachel Keller) que não gosta de ser tocada por ninguém, nós somos levados a mesma pergunta, mas logo descobrimos que ela não toca as pessoas pois isso desencadeia seus poderes. Quando ela toca alguém, sua consciência é trocada com a da outra pessoa. Nesse sentido em particular a personagem me lembra da Vampira dos X-men.
Porém, com a resposta sobre a sanidade de Sid “respondida” nós somos novamente puxados para a confusão da mente de David e até mesmo a existência de Sid é posta a prova. Seria ela apenas mais um produto da imaginação dele?
Noah
Hawley, através de um uso de cores, ângulos de câmera e narrativa visual que só
pode ser descrito como genial, faz com que o telespectador seja imerso na mente
de David e sinta os acontecimentos através dos olhos dele, de modo que a
audiência está sempre tão confusa quanto o protagonista em relação ao que é
sonho, memória ou realidade. David é um caso clássico de narrador não
confiável, e a cinematografia da série segue o seu exemplo. Muitas vezes você
se pega perguntando se aquilo que está vendo está mesmo acontecendo ou é apenas
uma ilusão.
Então,
com o passar do tempo, Noah Hawley faz com que você mude a sua primeira
suposição. Quando você percebe que mutantes existem na série e que David é
claramente um deles é que você percebe que nunca se tratou de uma pergunta em
que a afirmação de algo denota a contradição da outra. A reposta não é simples,
porque aqui, nada é simples. É nesse momento que você se vê reformulando a
pergunta que estava na sua mente já nos primeiros minutos da série: e se David
for mutante, mas também for louco?
Em vista disso, Legion foi a grande
revelação de 2017 e até o momento não cheguei a ver nenhuma série tão completa
quanto ela. Legion está entre as melhores primeiras temporadas que já vi. Tudo
na série é escolhido de forma deliberada e serve a um proposito, ainda que ele
nem sempre fique claro à primeira vista (e geralmente não fica). É o tipo de
série que fica ainda melhor depois de uma maratona pra rever todos os episódios
já sabendo de alguns dos mistérios, para que seja possível perceber as pistas
sutis que o telespectador deixou passar em uma primeira observação. Sem contar
que o elenco e a trilha sonora são ótimos.
A série está sempre inovando a cada
episódio, parece que cada “capítulo” da história opera por uma lógica
diferente. Legion não tem medo de inovar: é musical, ficção cientifica,
sobrenatural, ação, terror e romance. É de tudo um pouco, mas sem nunca perder
o foco.
Entretanto, apesar do meu amor por essa
primeira temporada, tenho confessar que Legion não é pra todo mundo. A trama é
focada primariamente nos personagens e não há uma ameaça ao universo pairando
sobre a cabeça dos habitantes desse mundo tão peculiar construído por Noah. Legion
é uma série introspectiva, fundada mais em um terror psicológico focado nos
personagens e isso, infelizmente, pode afastar alguns fãs do gênero que estão
acostumados com heróis “salvando o mundo” toda semana ou com explosões grandiosas
e cheias de CGI de Zack Snyder.
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